5º Simpósio de Missiologia: o mundo pluricultural e inter-religioso oferece novos conteúdos para a missão

de Jaime Patias – 17/03/2016

Por meio de conferências, debates e partilhas, os participantes do 5º Simpósio de Missiologia realizado esta semana em Brasília (DF), aprofundaram a reflexão teológica sobre os sinais dos tempos, evidenciara luzes e sombras do mundo contemporâneo, detectaram entraves e pressupostos eclesiológicos para uma Igreja em saída.

Entre as conferências, nesta quarta-feira, 16, o doutor em ciências da religião e padre verbita indiano, Joachim Andrade, abordou o tema: “a esperança que busca o Reino de Deus gera história”. Inspirado na figura do papa Francisco o teólogo refletiu sobre as novas tendências e caminhos na missiologia em quatro diferentes linhas aonde a Igreja precisaria atuar. “A primeira área seria como lidar com as diferentes gerações que se encontram tanto dentro como fora da Igreja. O segundo elemento seria a Igreja como instituição para atingir o povo que está na base, sendo que o papa diz: ‘a nossa opção preferencial deveria ser os pobres’. A terceira área está no âmbito das tradições religiosas e a última diz respeito à geração moderna, conectada com diversos elementos”, explicou padre Joachim. “Se a doutrina é de longo prazo, como a Igreja pode criar mecanismos para traduzir essa doutrina à uma geração que vive do curto prazo?”, questionou ele.

Ao refletir sobre essas preocupações, o professor recordou que “o movimento missionário surge logo após Jesus sair da sua tradição original, que era judaica, para criar uma nova tradição. A partir disso, os apóstolos tiveram a inspiração e começaram sair. Assim podemos dizer que a Igreja tem dois pulmões, o pulmão do oriente e o pulmão do ocidente. O pulmão oriental seguiu a rota da seda e dos temperos, foi para a China e para as Índias, com os eremitas, monges e sírios. Conseguiram levar essa doutrina fortemente marcada pela espiritualidade. Enquanto o outro pulmão, herdado por Paulo e Pedro, foi em direção ao ocidente, passando pela Grécia, fincando em Roma e mais tarde em toda a Europa e o ocidente”. Segundo padre Joachim, a partir disso, nós herdamos “a teologia grega, a estrutura romana e a expressão litúrgica, europeia, que se tornou um pilar da nossa tradição”. Padre Joachim avalia que, às vezes, esses pilares atrapalham a missão. Por exemplo, “como traduzir esses pilares na tradição da região amazônica? Precisamos sair da instituição, da estrutura, para que a Igreja se torne adequada para esses locais”, defende.

Na sequência, o missionário indiano analisou a figura do papa Francisco. “O papa, sendo uma figura importante, consegue incorporar esses dois pulmões. Por um lado ele opta pela proposta de Jesus, a itinerância, e vai marcando presença em diversas realidades. Ao mesmo tempo Francisco se torna uma pessoa de testemunho. Sua simplicidade mostra ao mundo que ele é uma pessoa de Deus. Assim, o silêncio oriental e a andança ocidental, se juntam para trazer novos elementos para a missão”.

Padre Joachim fez ainda, uma análise das gerações modernas e afirmou que é preciso aprender a lidar com as diversas gerações, desde aquele que experimentou a pobreza e as grandes guerras, passando pela geração pós Concílio Vaticano II, chegando até a modernidade e a geração da internet, nascida depois do ano 2000. Ele avalia que, neste contexto, “a Igreja precisa saber sair de si para poder lidar com todas essas gerações que estão tanto dentro da Igreja quanto fora dela”.

O teólogo recordou também que a Igreja está atenta às mudanças no diálogo inter-religioso. “O papa Francisco está consciente disso. Como ele se encontra com gente tão diferente e ao mesmo tempo permanece próximo de nós, quando eu me relaciono com um muçulmano, um budista, espírita ou indígena, as minhas percepções começam a mudar e eu mudo. Se eu sou representante da Igreja, ela também começa a mudar. E essas relações devem se intensificar porque o papa está se encontrando com diferentes povos e religiões”.

Por fim, padre Joachim falou dos diferentes focos da missão. “A partir da convivência com outras pessoas, outros povos, nós começamos a ter múltiplos focos para a missão. Pelo fato de eu ser indiano, vivendo há mais de 20 anos aqui no Brasil, tanto a Índia como o Brasil existem na minha cabeça. Esses dois mundos, um linear e outro circular, trazem novos conteúdos e novos conteúdos se encontram em mim. Assim, a missão encontra seu caminho na diversidade”, testemunhou o padre.

No final da exposição houve espaço para perguntas de esclarecimento sobre o tema. Em seguida, organizados em grupo, os participantes do Simpósio partilharam ideias e sintetizaram pontos importantes que foram socializados em plenário

Fonte: POM