Recepção do Concílio Vaticano II na Ásia é tema de Simpósio de Missiologia

de Jaime Patias – 27/02/2015

Após lançar um olhar sobre a África, os participantes do 4º Simpósio de Missiologia que acontece em Brasília (DF) voltaram-se para a Ásia, continente que abriga mais de 4 bilhões de habitantes. O evento que iniciou na segunda-feira, 23, e encerra nesta sexta, 27, avalia a recepção do Decreto Ad Gentes sobre a missão, nos continentes, 50 anos depois do encerramento do Concílio Vaticano II.

“Ao contemplar a missão na Ásia percebemos que o maior desafio dos cristãos no continente é a própria identidade. Essa preocupação deve-se ao fato de constituírem a minoria”, observou padre Joachim Andrade, missionário verbita indiano, doutor em Ciências da Religião, convidado para debater sobre os impactos do Concílio na Ásia. Ele destacou que o continente asiático é plurirreligioso, onde grandes tradições como o hinduísmo, budismo e o taoismo carregam uma tendência de englobar outras tradições menores. “Nessa multidão de tradições, os cristãos marcam presença através dos ritos, peregrinações e obras como, escolas, hospitais e outras instituições”.

Padre Joaquim vive há 22 anos no Brasil e atualmente é professor e animador da missão em Curitiba (PR). Ele explicou que para preservar sua identidade, a Igreja na Índia desenvolveu três atitudes. A primeira é “o diálogo interreligioso que nos leva a buscar o divino de forma pluricultural onde todas as tradições buscam o mesmo Deus por caminhos diferentes. Dialogando estamos sintonizados”.

A segunda atitude é viver a missão com humildade. “O continente asiático, até a década de 1990, recebeu missionários de fora. De lá para cá começou a enviar seus missionários e missionárias para os diferentes continentes. Nesses lugares, eles precisam se adaptar com humildade, nos contextos pós-modernos, uma vez que a maioria vem de zonas rurais”.

A terceira característica do povo asiático é a mística. “Apesar de abrigar mais da metade da população mundial, a Ásia preserva a dimensão da mística. A tradição cristã é itinerante e exige um movimento constante. Então a Igreja asiática introduziu a dimensão da mística na atividade missionária. Esse é um aprendizado muito forte no Vaticano II que pede para valorizar a cultura local e incorporar os elementos locais na vivência do cristianismo”.

O assessor sublinhou ainda que, a missão herdada do Concílio tem uma dimensão universal. “Se a missão é a experiência da fé cristã, então a existência cristã é a existência missionária. De fato, a dimensão universal da missão não nos coloca no mandato universal da proclamação do Evangelho, mas assegura a universalidade do Evangelho que proclamamos”.

Segundo padre Joachim, o anúncio do Concílio, na festa da conversão do Apóstolo Paulo, no dia 25 de janeiro de 1959, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, em Roma, tem um profundo significado. “O propósito de reconstruir uma Igreja com atitude de conversão. A atividade missionária se torna responsabilidade redentora para com toda a humanidade. A Igreja se encontra a si mesma, exatamente, ‘fora dos muros’, o que a leva a colocar-se em dia com o mundo moderno e inseri-la na realidade contemporânea. O mais importante é a missão e não a Igreja. A missão é de Deus na qual nós somos convidados a colaborar”.

Em sua análise, o missiólogo recordou que no Vaticano II, Deus não é retratado como um ser que permanece no céu e diz para a Igreja ir a todo o mundo pregar o Evangelho, mas é visto como aquele que antes de tudo, está na missão e convida a Igreja a trabalhar como parceira da missão. “A atividade missionária não é mais entendida de forma geográfica como terras ‘cristãs’ e terras de ‘missão’. Sendo que toda a Igreja é missionária, missão pode se encontrar em qualquer lugar”.

A importância do Concílio Vaticano II para a Igreja está no fato de que, pela primeira vez na história, ela foi experimentada como uma verdadeira “Igreja Mundial”. Antes a Igreja era europeia com suas áreas americanas de disseminação e suas exportações para a Ásia e a África. “Nesse sentido, temos uma Igreja verdadeiramente universal com as Igrejas locais vistas como parte do todo. Uma Igreja genuinamente católica com diversos rostos”, completou padre Joaquim.

O 4º Simpósio de Missiologia é promovido pelo Centro Cultural Missionário (CCM) e a Rede Ecumênica Latino-americana de Missiólogos e Missiólogas (RELAMI). A iniciativa reúne 55 pessoas entre, docentes, teólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias e agentes de pastoral do Brasil e convidados de Moçambique e do México.