Simpósio de Missiologia debate migrações como “sinais dos tempos” na missão

de Jaime Patias – 17/03/2016

“O papa Francisco coloca a misericórdia a cima da lei. A aplicação da lei deve ter em conta a realidade e os sinais dos tempos. Com isso ele relativiza a doutrina e dá prioridade ao ser humano”, afirmou o professor Roberto Marinucci, durante conferência no 5º Simpósio de Missiologia que acontece ao logo desta semana em Brasília (DF).

O evento é promovido pelo Centro Cultural Missionário de Brasília (CCM) e a Rede Ecumênica Latino Americana de Missiólogos e Missiólogas (RELAMI), e reflete sobre o papa Francisco como “timoneiro da esperança”.

Na manhã desta segunda-feira, 14, o professor Marinucci, mestre em missiologia e diretor da revista interdisciplinar da Mobilidade Humana falou sobre os “sinais dos tempos e tempo da misericórdia” no contexto das migrações. Segundo o pesquisador, as migrações sustentam a lógica do “choque de civilizações”. “A migração é o bode expiatório e o capital do medo que legitima o estado de exceção permanente”, explicou.

Relatório das Nações Unidas mostra aumento de 71 milhões de refugiados em todo o mundo nos últimos 15 anos. Cerca de um terço destas pessoas vive na Europa, sendo 12 milhões na Alemanha e 9 milhões no Reino Unido. O número de migrantes internacionais atingiu a marca de 244 milhões de pessoas em 2015, um aumento de 41% em relação ao ano de 2000, segundo um relatório da ONU divulgado em janeiro de 2016.

Marinucci recordou que ao ser eleito papa, Francisco fez a sua primeira visita à Ilha de Lampedusa, porta de entrada de milhões de migrantes na Itália. Diante de uma das maiores tragédias humanas o papa criticou a “anestesia do coração” e a “indiferença”. Em Lampedusa, Francisco pediu perdão a Deus “por quem se acomodou, e se fechou no seu próprio bem-estar que leva à anestesia do coração. Esta cultura do bem-estar leva à indiferença a respeito dos outros; antes, leva à globalização da indiferença” (8 de julho de 2013).

Compaixão e responsabilidade são outras duas marcas no pontificado de Francisco, destaca o professor Marinucci, conforme afirma na encíclica Laudato si`. “A falta de reações diante destes dramas dos nossos irmãos e irmãs é um sinal da perda do sentido de responsabilidade pelos nossos semelhantes, sobre o qual se funda toda a sociedade civil” (LS 25).

O conferencista demostrou também, que a problemática das migrações está lidada a outros temas como: os desequilíbrios socioeconômicos de uma globalização sem regras; o comércio de armas; regimes totalitários, pobreza e violência, narcotráfico e crime organizado; crise ambiental; a cultura do descarte; visão consumista do ser humano; o monopólio dos meios de comunicação, entre outros.

As migrações e os refugiados estão ligados à degradação sócio ambiental. Diante disso, Francisco pede mudança de atitude. “A humanidade é chamada a tomar consciência da necessidade de mudanças de estilos de vida, de produção e de consumo…” (LS 23).

Diante da falta de acolhida dos migrantes, Francisco deu a seguinte declaração: “Caríssimos religiosos e religiosas, os conventos vazios não servem à Igreja para serem transformados em hotéis e ganhar dinheiro. Os conventos vazios não são vossos, são para a carne de Cristo que são os refugiados” (Centro Astalli, 10.09.2013). “Cada paróquia, cada comunidade religiosa, cada mosteiro, cada santuário da Europa hospede uma família, começando pela minha diocese de Roma” (Angelus, 06.09.2015).

O papa pede para “descobrir a misericórdia como forma de convivência”. Devemos construir pontes e não muros. “Onde há um muro, há o fechamento do coração. Servem pontes, não muros” (Angelus, 9 de novembro de 2014).

Professor Marinucci avalia que não há nenhuma possibilidade de diminuição das migrações. Isso porque o sistema que produz a mobilidade humana segue dominando o mundo e não dá sinais de mudanças.

O Simpósio que se estende até quinta-feira, 17, reúne no CCM cerca de 50 pessoas entre docentes, teólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias, agentes de pastoral de todo o Brasil.

A programação inclui conferências, debates, grupo de estudo, testemunhos missionários, apresentações de iniciativas e publicações.

Fonte: POM