A cultura do encontro desafiada pelo mundo digitalizado

de Jaime Patias – 01/03/2015

No terceiro dia do Simpósio sobre “50 anos do Decreto Ad gentes” realizado no Centro Cultural Missionário (CCM), em Brasília (DF), o assessor teológico do Cimi, padre Paulo Suess, refletiu sobre os desafios e perspectivas do mundo digitalizado para a prática missionária.

“A comunicação ad gentes rompe com linguagens herméticas e se concentra no essencial. A transmissão da fé é desafiada pela urgência da caridade, pela velocidade de aparatos e tecnologias frias a serviço do grande capital, e pela lentidão do encontro face a face com o outro”, afirmou o teólogo. O essencial, no Novo Testamento e na Evangelii Gaudium é a “exigência irrenunciável do amor ao próximo: quem ama o próximo cumpre plenamente a lei” (EG 161).

Promovido pelo Centro Cultural Missionário (CCM) e a Rede Ecumênica Latino-americana de Missiólogos e Missiólogas (RELAMI), o Simpósio reuniu, nos dias 23 a 27, em Brasília (DF), 55 pessoas entre, docentes, teólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias e agentes de pastoral do Brasil e convidados de Moçambique e do México.

Em sua análise, Suess observou que a “linguagem ad gentes, hoje, é necessariamente ecumênica, interreligiosa e humanitária”. O missiólogo abordou o tema em três círculos concêntricos percorrendo, no primeiro e mais amplo círculo a “genealogia da comunicação”, desde a oralidade à escrita, e do livro sagrado ao mercado editorial digitalizado.

No segundo círculo o teólogo apresentou os “desafios, promessas e ambivalências do mundo digital” para chegar ao terceiro círculo quando destacou a construção da cultura do encontro em comunidades e redes.

“Podemos mergulhar no mundo digital, sem molhar-nos nas águas do lucro e da nova colonização pelas promessas da propaganda?”, indagou o assessor e afirmou: “por acompanhar as grandes tendências da época, a evangelização norteada pela ‘cultura do encontro’ se inscreve num horizonte místico em busca da unidade na diversidade e numa perspectiva profética em busca da paz no meio dos grandes conflitos. Mística e profecia transformam a missão de `benfeitora colonial´ em servidora e libertadora estrutural, de juíza entre as partes em advogada dos pobres. Ao meio do povo, a missão aprende louvar a Deus na humanidade ferida”.

Suess terminou parafraseando a Evangelii Gaudium: “Essas relações interpessoais com a humanidade ferida não podem ser substituídas por sofisticados aparatos da mídia digital” (cf. EG 88).

De acordo com Suess, proximidade, universalidade e urgência pastoral se articulam em sete registros: mobilidade (mística do caminho e ruptura sistêmica), pluralidade (diálogos com o diferente), relevância (para os pobres e os outros), leveza (física e estrutural), visibilidade (sinal que renuncia à totalidade sem abrir mão de sua missionariedade), simplicidade (de doutrinas e da vida), e conectividade (proximidade universal e capacidade de articulação).

Paulo Suess presidiu a missa de envio, na manhã desta sexta-feira, 27, e em sua homilia lembrou que ressuscitar e fazer ressuscitar são dois polos do caminho do cristão. “Somos enviados neste rito de iniciação (missa) começando com o perdão que nos liberta para a ressurreição. Temos depois, o rito das luzes do qual saímos um pouco mais iluminados com este encontro (Simpósio) de diversidade onde fizemos uma experiência de enriquecimento. Todos fomos iluminados e a luz está em nós. Esta luz dos cinco continentes é a luz da Páscoa. Eis a luz de Cristo! Com ele seguimos o caminho no prolongamento da encarnação. Partir é sempre um novo repartir ao chegarmos em casa onde iluminamos a vida dos outros. Nós sempre voltamos diferentes”.