O batismo da Imaculada Conceição no rio Paraíba e como ela se tornou “nossa” em Aparecida

de Paulo Suess – 31/10/2017

Há 300 anos, três pescadores desceram o rio Paraíba do Sul à procura de peixes. Sem sucesso. Chegando ao Porto Itaguaçu, lançaram outra vez sua rede e, em vez de peixes, apanharam o corpo de uma imagem de barro cozido e, num segundo lance de sua rede, apareceu a cabeça da mesma imagem, logo reconhecida como uma imagem despedaçada de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. A história conta que, depois dessa pesca surpreendente, os pescadores apanharam peixes em abundância.

A transfiguração de “Nossa Senhora da Imaculada Conceição” em “Nossa Senhora Aparecida”, ou abreviado, da “Imaculada” portuguesa em “Aparecida” brasileira, às vezes, amorosamente, invocada como “Cida” ou “Cidinha”, pode ser considerado o primeiro milagre de uma santa “cujo ancestral branco” acompanhou os conquistadores no porão de suas naus. No litoral paulista, Martim Afonso de Souza (1500-1571) dedicou a ela a primeira igrejinha no Brasil. Hoje, em todo o território nacional, são mais de 530 paróquias dedicadas a Imaculada Conceição e mais de 340 a Nossa Senhora Aparecida.

O milagre é configurado pela metamorfose de uma santa, que a iconografia nos mostra desde suas origens europeias branca e, na plenitude da graça, acompanhada por anjos e olhando para o céu, e que sobreviveu à longa permanência no rio Paraíba do Sul. Há relatos dos primórdios da atividade missionária que nos falam de certa resistência de alguns grupos guarani contra imagens da Virgem conquistadora, que consideravam portadora “de um poder maléfico”. Ruiz de Montoya nos relata a dor que sentiu quando viu a destruição execrável que os guaranis fizeram de uma imagem da Virgem que pertenceu ao padre Roque Gonzáles (1576-1628). E o jesuíta Pedro Lozano (1697-1752), historiador da Companhia de Jesus, “recolhe em sua obra um fato semelhante no povo guarani chiriguano. Após darem morte ao Pe. Julián Lizardi, os indígenas dividiram de alto a baixo uma pintura de Nossa Senhora, inseparável companheira do missionário, e derrubaram a imagem titular, arrancando-lhe a cabeça e as mãos”. Se foram guaranis que jogaram a imagem no rio Paraíba, não o sabemos. Sabemos, porém, que a passagem de Virgem conquistadora para Virgem protetora dos conquistados se deu num processo demorado e, por que não dizer, processo milagroso de inculturação.

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