Simpósio de Missiologia faz memória dos 50 anos do Decreto Ad Gentes

de Jaime Patias – 24/02/2015

Recordar os 50 anos do Decreto conciliar Ad Gentes, sobre a missão, resgatando sua origem, incidência e ressonância na caminhada da Igreja, e as novas configurações e perspectivas da missão aos povos. Com este objetivo acontece, ao longo desta semana, dias 23 a 27, em Brasília (DF), o 4º Simpósio de Missiologia.

Promovido pelo Centro Cultural Missionário (CCM) e a Rede Ecumênica Latino-americana de Missiólogos e Missiólogas (RELAMI) o evento reúne 55 pessoas entre, docentes, teólogos, pesquisadores, representantes de instituições missionárias e agentes de pastoral do Brasil e convidados de Moçambique e do México. Entre os participantes estão missionárias e missionários estrangeiros atuando no Brasil.

“Os 50 anos da promulgação do Decreto Ad gentes nos lembram de 50 anos de luta já evidenciada durante o Vaticano II. Aliás, a missão se dá sempre num contexto de luta, luta para o bem viver da humanidade, a construção de um horizonte de sentido, para a valorização dos contextos, universalmente, de descolonização que continua até hoje, porque a globalização é uma nova colonização”, afirmou padre Paulo Suess na abertura dos trabalhos. No Simpósio, o missiólogo apresentará as novas configurações e perspectivas para a missão aos povos.

Suess lembra que, “o Ad Gentes afirma a possibilidade de salvação a partir de outros credos, culturas e religiões. Na Igreja católica, que por dois mil anos considerou ter o monopólio salvífico, a nova visão representou uma ‘ruptura’. Essa ruptura não significa também ruptura com a tradição da Igreja ou significa voltar à verdadeira tradição do Evangelho?”, perguntou Suess e recordou que o Decreto Ad gentes passou por muitas redações e sendo promulgado no último minuto do Concílio, no dia 7 de dezembro 1965. Em sua avaliação, no pós-concílio, o setor que se sentiu derrotado pela nova orientação, procurou recuperar as suas antigas posições. “O documento Iesus Dominus, de 2000, aponta para essa recuperação e reconstrução de uma continuidade pré-conciliar”. Essas e outras questões serão debatidas durante o Simpósio.

Na manhã desta terça-feira, 24, o secretário executivo do CCM e da RELAMI, padre Estêvão Raschietti, SX, falou sobre a Missão aos povos a partir do Concílio. Apresentou a dimensão missionária do Concílio contido no Decreto Ad Gentes, sua contextualização, gênese e configuração.

“A missão aos povos diz respeito ao conjunto de significados, articulações e tarefas específicas relativas à atividade missionária num contexto sócio-cultural ‘não-cristão’, que exige sempre dos agentes um deslocamento transcultural”, destacou padre Estêvão. “Trata-se de uma missão específica que deve ser necessariamente vinculada à natureza missionária da Igreja e que deve envolver a Igreja como um todo. A missão ad gentes contribui para alimentar a missionariedade eclesial com a dimensão universal da qual é testemunha profética”, sublinha o missiólogo.

Segundo ele, “o Decreto Ad Gentes não pode ser lido sem uma abordagem integral do evento conciliar, em todos os documentos. Com o Vaticano II a Igreja católica procurou um próprio reposicionamento em relação ao mundo, inaugurando uma época de transição de uma cristandade fechada e autocomplacente para uma Igreja samaritana e missionária”.

Sobre o Decreto Ad Gentes, padre Estêvão destacou que “a Igreja e a sua missão evangelizadora têm sua origem e sua fonte na Santíssima Trindade, segundo o plano do Pai, a obra do Filho e a missão do Espírito Santo. A Igreja colabora esta missão do amor de Deus em nosso mundo”.

Na avaliação do assessor, o magistério pontifício pós-conciliar retoma várias questões ainda indefinidas, dando passos importantes na reflexão. A participação das Igrejas locais na missão aos povos ainda deixa a desejar. O Ad Gentes continua a desafiar profeticamente a Igreja de todos os continentes no campo da cooperação e na responsabilidade com a dimensão universal da missão. “O que precisa ainda fazer para que as nossas Igrejas assumam sua vocação missionária ad gentes?”, questionou padre Estêvão.

Na segunda parte da manhã, padre Sidnei Marco Dornelas, CS, assessor da Comissão Episcopal para a Missão Continental apresentou a caminhada pós-conciliar na América Latina a partir dos documentos do CELAM.

O estudo pretende gerar debate acerca da missão ad gentes entre os membros da RELAMI criada por ocasião do 2º Simpósio de Missiologia, em 2013, e composta por especialistas, pós-graduandos, mestres e doutores em missiologia. Discutirá também, o papel dos missiólogos e missiólogas na animação, cooperação e articulação missionária da Igreja no Brasil.